Pesquisadores brasileiros querem doar pele de tilápia para tratar queimaduras de vítimas de explosão no Líbano
Por: Lohrrany Alvim
13/08/2020 – 17h41
No dia 4 de agosto de 2020, uma terrível explosão abalou Beirute, capital do Líbano, após incêndio em um armazém com 2.750 toneladas de nitrato de amônio. O acidente afetou a vida de muitas pessoas daquela região. Entre as que foram impactadas com a explosão, grande parte apresenta graves queimaduras pelo corpo. E como a união faz a força, o Brasil está disposto a ajudar.
Pensando nisso, pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC), que participam do Projeto Pele de Tilápia, estão buscando apoio de autoridades para o envio de 40 mil cm² de pele de tilápia, usada para amenizar as queimaduras. A pesquisa é realizada no Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM), sob coordenação do Dr. Odorico de Moraes.
Para quem não sabe, os estudos desenvolvidos pela UFC mostram a eficácia do material em queimaduras de 2º e 3º graus e lesões na pele. Ele age como um “curativo biológico” no processo de cicatrização. No Brasil, mais de 350 pessoas já passaram pelo tratamento com a pele de tilápia. Caso a doação aconteça, entre 50 e 100 pessoas poderiam ser beneficiadas.
Uso da pele de tilápia
No início do ano mostramos por aqui que um hospital do Rio de Janeiro utilizou pele de tilápia para tratar pacientes vítimas de queimaduras graves. O Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro, foi o primeiro no estado a realizar o tratamento. Em 2019, amostras do curativo com pele de tilápia, desenvolvidas pela Universidade Federal do Ceará, foram enviadas ao espaço pela Nasa. Bem legal, né?!
A pele da tilápia foi utilizada inicialmente no tratamento de queimados. A técnica para a recuperação desses pacientes desenvolvida pela UFC chegou a ser exportada e usada para curar queimaduras de ursos na Califórnia. Em 2017, pesquisadores do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM), em parceria com o Instituto de Apoio ao Queimado (IAQ), inauguraram o primeiro banco de pele animal do Brasil.
Burocracia
Apesar da ótima iniciativa, a boa ação requer paciência. Isso porque, de acordo com o pesquisador Carlos Roberto Paier, a pele da tilápia é um produto experimental, ainda não autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Com isso, o envio do material ainda é burocrático. Segundo o biólogo Felipe Rocha, pesquisador do projeto, é preciso haver um consenso entre as autoridades das duas nações.
“Como é um material de pesquisa, os ministérios da Saúde dos dois países precisam se contactar e autorizar o envio e o uso. Mas a pesquisa já está bem avançada e os resultados de efetividade de efeito já são comprovados e publicados em artigos nacionais e internacionais”, afirma o pesquisador.
Além disso, é preciso ter uma empresa interessada em fazer a transferência da tecnologia da UFC. Se a empresa adquirir esse material e passar a produzir a pele da tilápia industrialmente, o produto poderá ser comercializado e passará a ser fiscalizado pela Anvisa.
Engana-se quem pensa que essa é a primeira vez que existe a intenção de enviar o produto para o exterior. Em 2019, a equipe tentou colaborar no socorro a vítimas de um acidente na Colômbia. Novamente, houve entraves com a legislação de lá, o que acabou inviabilizando o envio. Vamos torcer para que ocorra tudo bem e que as pessoas impactadas pela explosão em Beirute possam receber este alívio brasileiro.
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