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Universitárias utilizam jogos de tabuleiro para ensinar química a detentos no Espírito Santo

Por: Adriano Dias
17/04/2021 – 11h05
Elas explicam que o método ajuda na memorização das respostas nas aulas. (Foto reprodução Internet)

 

Todo mundo merece uma segunda chance para se reintegrar a sociedade e, com uma dose de criatividade, ajuda bastante. Pensando nisso, a Universidade Federal do Espírito Santo conseguiu desenvolver um método para ensinar química em instituições penitenciárias utilizando jogos adaptados para a população adulta. Com a técnica, foi averiguado aumento na aprendizagem e na memorização do conteúdo ensinado.

Desenvolvido por estudantes de química, o método foi apresentado em fevereiro no Simpósio da Organização Internacional para Educação em Ciência e Tecnologia, na Coreia do Sul, realizado em formato online. De acordo com a Agência Brasil, as autoras do projeto são Iara Koniczna e Larissa Feitosa, que cursaram química na UFES, usaram jogos feitos de material de papel para ensinar a tabela periódica e as combinações entre elementos químicos, entre outros conteúdos.

 

O início do projeto

Desenvolvido durante o estágio de Iara no Complexo Penitenciário de Xuri, em Vila Velha, o trabalho foi apresentado há quase dois anos, na conclusão da graduação. A experiência direcionou a carreira de Iara, que segue no trabalho de ensinar para as pessoas privadas de liberdade.

O embrião do projeto veio dos desafios que ela observou durante as aulas que acompanhou no Complexo Penitenciário, que possui uma série de restrições. Não é possível, por exemplo, fazer experimentos químicos. Iara detalhou que, em algumas unidades, os presos não podem sequer levar os livros para as celas para estudar, nem ter acesso a lápis fora dos horários de aula.

“Tem sempre o mesmo problema, o esquecimento. Com o jogo, eles acabam fazendo mais conexões e conseguem ter melhor aprendizado e melhor memorização a respeito do conteúdo trabalhado”, explicou Iara para a Agência Brasil.

Um dos espelhos das docentes foi o “Tabela Maluca”, tabuleiro desenvolvido durante uma pesquisa da Universidade Federal do Paraná (UFPR), para explicar os conceitos e propriedades dos elementos químicos. Outra fonte consumida foi o clássico “Batalha Naval”, utilizado para ensinar dados dos elementos químicos, como período, números atômicos e raio atômico.

“Aplicamos um questionário com perguntas abertas sobre a tabela periódica e as respostas dos alunos foram muito frustrantes. Na outra semana, utilizamos os jogos e, depois, aplicamos o mesmo questionário. As respostas foram gratificantes”, conta Iara.

Ao final, 98% dos estudantes disseram que gostaram da aula.

 

As dificuldades no ensino em cárcere privado

A professora do Departamento de Teorias do Ensino e Práticas Educacionais do Centro de Educação da Ufes e orientadora do projeto Mari Inêz Tavares, explicou que ainda são poucas as pesquisas e os materiais desenvolvidos especificamente para o público adulto. São ainda mais escassos os estudos voltados à educação de pessoas privadas de liberdade.

No trabalho, foi preciso adaptar o jogo para esse público específico. De acordo com a Lei de Execução Penal, os sistemas de ensino devem oferecer aos presos cursos supletivos de educação de jovens e adultos. Também foi acrescentada à lei, em 2015, a oferta do ensino médio, regular ou supletivo, com formação geral ou educação profissional de nível médio, visando a universalização desta etapa.

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