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Roberto Vitorino: “Achei que vinha ajudar o Gerson, mas na verdade eu entendi que a missão era muito maior”

Por: Lohrrany Alvim e Adriano Dias
02/10/2021 – 12h20

Presidente da Rádio Rio de Janeiro faz um balanço sobre as mudanças vivenciadas na Emissora da Fraternidade. (Foto: Roberto Vitorino – Presidente da Rádio Rio de Janeiro)

 

Quando se completa meio século de vida, é necessário refletir sobre aquilo que foi plantado e também sobre os frutos que ainda podem ser colhidos nas próximas gerações. Este pensamento não é diferente na Rádio Rio de Janeiro. Não é todo dia que se completa 50 anos e, portanto, a emissora está em tempo de refletir, agradecer e trabalhar para seguir com esta nobre missão de levar ao mundo as mensagens de conforto através da doutrina Cristã-Espírita.

Neste processo, cabe a Roberto Vitorino, de 70 anos, a responsabilidade de liderar os passos da casa justamente no momento em que esta celebra as primeiras cinco décadas de vida. Atual presidente da Fundação Cristã-Espírita Cultural Paulo de Tarso, Vitorino chegou à Rádio ainda no ano de 2003, como voluntário atuando como assistente no setor de Marketing.  Dois anos depois, ele foi nomeado conselheiro da FUNTARSO e diretor-administrativo. Já no ano de 2015, foi eleito vice-presidente na chapa liderada por Gerson Simões Monteiro. No ano seguinte, em virtude do agravamento da saúde daquele que foi responsável por sua chegada à Emissora da Fraternidade, Vitorino ganhou dupla função: a de presidente-interino da Fundação e de acompanhar todos os passos de Seu Gerson no hospital até o seu retorno à pátria espiritual.

“Gerson era um instrumento importantíssimo. Afinal de contas, foram 33 anos trabalhando aqui na emissora e eu aprendi muito com ele, o que me deu certa tranquilidade para chegar no dia de hoje à frente da Rádio Rio de Janeiro”, recorda Vitorino.

Nesta entrevista, Roberto Vitorino faz uma volta ao tempo, recorda sobre como a Rádio Rio de Janeiro entrou definitivamente na sua vida, faz um balanço sobre o período em que assumiu a presidência da emissora e relata as campanhas para ajudar na modernização da Rádio, em todas as frentes.

“Quando participei de um congresso da ABERT, em Brasília, eles diziam que o futuro do AM era a internet. De volta do Rio, falei com o Gerson e, para minha satisfação, ele falou “interessante, nós já temos site”. Eu nem sabia. Nós já estávamos na frente de muitas grandes rádios. E depois, por questões de recursos e administrativas, nós não conseguimos acompanhar a evolução. Agora estamos num novo esforço quando se trata de equipamentos de estúdio e de redes sociais”, enfatiza o presidente da FUNTARSO.

Mesmo com todas essas mudanças ocorridas, Vitorino deixa bem claro que ainda há um longo caminho pela frente para que a Rádio Rio de Janeiro possa seguir firme e forte neste desafio de levar conforto pelas ondas do rádio e pela internet. Ele também enfatiza, entre outros aspectos, a gestão participativa da direção da Emissora.

“Ainda no tempo do Jadiel [João Baptista de Oliveira, ex-presidente], antes de o Gerson assumir a presidência, nós já trabalhávamos para que tivéssemos uma gestão participativa, como acontece hoje no movimento espírita. Não há condições de um só ficar responsável por tudo. E, no nosso caso, a gestão participativa é através do conselho curador. São todos voluntários, não temos nenhum radialista, mas temos administrador, advogado e temos psicólogos para acalmar os ânimos (risos). Temos uma mistura de pessoas, com experiências e conhecimentos diferentes”.

Além das funções presidenciais, Vitorino atua também no comando de programas como “Estudo das Obras de Emmanuel” (exibido todas às terças, às 10h), além do “Clube da Fraternidade” (veiculado toda sexta, às 12h), este último foi reformulado recentemente, abrindo espaço para a participação dos ouvintes.

“Está sendo um desafio. Eu preciso aproveitar aquelas pessoas que estão ali, colocando suas mensagens, e responder ao vivo. Isso ainda vai precisar de adaptação e ao mesmo tempo ter uma equipe de suporte para isso. Mas nós vamos caminhando nessa direção, que é fundamental. A interatividade é o caminho, eu não vejo outro”, destaca o presidente da Rádio Rio de Janeiro.

(Foto: Roberto Vitorino – Presidente da Rádio Rio de Janeiro)

 

Confira a entrevista completa com Roberto Vitorino:

Rádio Rio de Janeiro: Como conheceu a Rádio?

Roberto Vitorino:  “Como a grande maioria dos voluntários e, hoje, dos diretores, cheguei pelas mãos do Gerson Simões Monteiro. Ele já me conhecia do movimento espírita, ainda em Resende. Tivemos vários contatos. E quando me mudei novamente para o Rio de Janeiro, Gerson e eu nos encontramos na Bienal do Livro. E quando voltávamos do evento, entrei no ônibus com a minha esposa e, quando o ônibus estava saindo, Gerson entrou e sentou do meu lado. Minha esposa cochilou e nós fomos conversando por uma hora. Ele começou a falar sobre a Rádio e, em uma reunião no Abrigo Teresa de Jesus, o Celente [Antônio Celente Videira, ex-conselheiro da RRJ] apresentou o quadro da Rádio Rio de Janeiro, a ideia dos conselheiros, como funcionava, e eu aceitei conhecer a Rádio e não saí mais. Achei que vinha ajudar o Gerson, mas na verdade eu entendi que a missão era muito maior”.

RRJ:  Quais mudanças significativas o senhor acompanhou nesses anos de Rádio Rio de Janeiro?

RV: “Quando eu cheguei aqui [na Rádio Rio de Janeiro] só tinha máquina de escrever, praticamente. Apenas um computador. E o grande salto tecnológico foi a informatização. E conseguimos informatizar tudo, colocar os sistemas… hoje temos dois: o de gestão administrativa e o de gestão de rádio. E mais recentemente a questão das redes sociais (…) E depois, por questões de recursos e administrativas, nós não conseguimos acompanhar a evolução. Agora estamos em um novo esforço quando se trata de equipamentos de estúdio e de redes sociais”.

RRJ:  Comente sobre a evolução tecnológica em Magé. 

 RV: “Quando cheguei era tudo válvula. Os equipamentos eram bastante precários, já muito cansados, e chegou uma hora que não era mais possível [utilizar a válvula];  Danificavam toda hora, as válvulas eram caríssimas, tinham que ser importadas e eram duas por ano. Então, houve a necessidade de transformar o parque com transmissores atualizados, chamado “transmissor sólido”. Compramos um transmissor reserva de boa qualidade e o colocamos imediatamente no ar. Depois, começamos uma grande campanha para buscar um transmissor de 50 quilowatts, que é a nossa potência. Assim, conseguimos comprar o atual transmissor que, para se ter uma ideia, tem mais de 2,5 mil no mundo. Na época, aqui no Rio de Janeiro, nós tínhamos o melhor transmissor da área”.

RRJ:Quais são os próximos passos? 

RV: “Lá fora já foi dito: o futuro do rádio AM é a internet. Ainda não existiam as redes sociais. E agora, estamos vendo que a internet, com as redes sociais, e o que vem por aí, é o grande caminho. O público é mais jovem, o grau de exigência é mais dinâmico, com mensagens mais curtas. Na nova visão, não cabe mais um “programa de falação”, a dinâmica é outra. Serão programas mais curtos, mas com mensagens mais objetivas, com mais interações dos nossos ouvintes mandando sua pergunta, seu questionamento (…) Então, o que nos espera é um investimento bastante grande e foco nas redes sociais. E no rádio AM, a tendência é ir reduzindo. Em questões tecnológicas, o rádio tem pouco alcance. E planejamento não falta, falta implementação e recursos para que possamos chegar lá”.

 

RRJ: – Como foi presenciar os últimos momentos de Gerson antes de retornar à pátria espiritual? 

RV: “O Gerson não era só o chefe, era o amigo, o irmão. E ele tinha uma consideração muito grande por mim, pela minha esposa. Tive algumas oportunidades de vê-lo no hospital. Depois de passar pela cirurgia, a visita já havia encerrado e não podia entrar. Ao conversar com a enfermeira, ela pediu autorização e eu pude ver o Gerson se recuperando da cirurgia. Ali não era mais o amigo, era o irmão e companheiro espírita. Eu percebi, pela minha mediunidade, que estava tudo bem. Eu pude tranquilizar a família naquele momento. Mas ninguém esperava que, depois de bem recuperado, ele teria uma infecção que, logo em seguida, evoluiu. Aí, ele começou a se preparar para partir. Esse momento do acompanhamento foi muito difícil, mesmo com toda a crença e toda a fé que nós temos, sabendo que ia acontecer. E uma das últimas coisas que ele falou para nós foi: “Eu não volto mais. “Eu trabalhei até o último dia”.  “E realmente”.

RRJ: Fale sobre a missão de assumir a função de presidente da Emissora…

RV: “Internamente, a dificuldade de qualquer gestor é que tem uma equipe que tem um líder e, de repente, você assume aquela chefia e não tem o carisma daquele chefe, a experiência dele na Rádio, e não tem o tato para lidar com aquelas pessoas que ele tinha. Na área de administração, embora eu tenha trabalhado com gestão de negócios e outras áreas, eu fui da logística, típica de bastidor. Você trabalha para alguém, lá na frente, aparecer. Então, pessoalmente, foi um desafio nesse sentido, sabendo das minhas limitações, já que eu não tinha tempo para me dedicar como o Gerson tinha. A integração dos diretores também demorou. Mas conseguimos, sempre com o auxílio dos psicólogos (risos). Hoje temos uma gestão participativa, mas ela foi construída com muito suor e algumas lágrimas. Não foi fácil, mas, graças a Deus, nunca estivemos sós. A espiritualidade atua”.

RRJ: O que a Rádio Rio de Janeiro representa na sua vida? 

RV: “Vou voltar no tempo. Eu me inscrevi no vestibular para o curso de administração. Na época eu era católico e fui à igreja e orei. Em termos de carreira e de vida eu estava tranquilo. Eu queria começar outra coisa. Mas para que eu iria estudar administração? O que eu pedi ali na minha oração era para ser útil na minha área. Passei, fiz faculdade e, de certa forma, quando cheguei à Rádio, eu voltei lá atrás. Falei “é aqui”. Então, aqui é uma realização pessoal e profissional. Sinto que estou devolvendo tudo que eu recebi”.

RRJ: Como o Sr. enxerga a Rádio Rio de Janeiro daqui a 50 anos? 

RV: “O que eu imagino é que, com essa interatividade que estamos buscando, com essas novas mídias que já existem e as que virão, vamos estar num patamar muito importante. O mais importante aqui, na nossa Rádio, é o produto e o serviço. O nosso produto e serviço são diferenciados. Cada emissora tem a sua característica, mas a nossa rádio tem um produto que ninguém tem: o produto e o serviço são a divulgação da fé cristã-espírita. Eu sempre faço questão de ressaltar a fé cristã-espírita porque antes de ser espírita, nós somos cristãos. Porque são três pontos: a ciência, a filosofia e a religião. (…) Hoje trabalhamos muito na questão religiosa e na questão doutrinária. No futuro, até pela modernidade, vamos trabalhar nas três grandes áreas e abranger o cristianismo de uma maneira geral, para todos os cristãos”.

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