Pesquisadores brasileiros testam vacina contra ácaros para combater dermatite
Por: Lohrrany Alvim
05/02/2022 – 09h58
Você sabe o que é dermatite atópica? Três em cada dez brasileiros acreditam que a inflamação da pele é um problema de saúde contagioso, ou seja, que pode ser transmitido pelo contato direto. Essa visão equivocada indica o preconceito com respeito a esse quadro que afeta de 15% a 25% das crianças e cerca de 7% dos adultos, de acordo com a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). Trata-se de uma doença caracterizada por pele seca, lesões avermelhadas e coceira intensa.
Vacina contra a doença
Para mudar essa condição que afeta uma parcela da população, um estudo pioneiro de cientistas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) revelou que a dermatite atópica pode ser combatida com sucesso com a vacina contra ácaros, já aprovada pela Anvisa.
“A grande novidade do estudo foi descobrir que os ácaros estão associados a cerca de 80% dos casos moderados e graves de dermatite atópica e que esta pode ser controlada pela mesma imunoterapia já usada para tratar asma e rinite”, afirma a alergista Luisa Karla de Paula Arruda, uma das coordenadoras da pesquisa.
Alérgicos sabem que os ácaros são um grande inimigo na vida deles. Esses parentes minúsculos de aranhas e carrapatos, menores que a ponta de um alfinete, já eram associados a mais de 90% dos casos de alergias respiratórias, como asma, rinite e faringite. Médicos também já tinham conhecimento que, por vezes, crises de dermatite atópica são acompanhadas de rinite ou asma. Mas se achava que os ácaros não passavam de fatores de risco. Por isso, a vacina contra ácaro não era indicada para os portadores de dermatite atópica.
“Quando entra em crise de dermatite, é comum uma pessoa pensar que foi o estresse ou algo que comeu ou vestiu o motivo. Eles podem ser apenas um gatilho, a causa é a exposição a ácaros”, detalha Arruda.
Mas não pense que escapar dos ácaros é uma tarefa fácil. Eles estão em toda parte e, principalmente, no quarto. Um colchão em uso há dois ou mais anos, por exemplo, pode ter facilmente mais de um milhão de ácaros. Já em um grama de poeira, vivem mais de 40 mil deles.
Fase de testes
No estudo, 66 pacientes completaram 18 meses de tratamento. Os pacientes — 70% dos quais mulheres — têm entre 3 a 62 anos, com média de idade 20 anos. Na imunoterapia, a pessoa recebe doses crescentes de gotas sublinguais (de uma a oito gotas). A ideia é diminuir a sensibilidade ao causador de alergia, no caso, o ácaro. A mesma estratégia é muito usada contra alergias de forma geral.
Ainda de acordo com a pesquisa, após 18 meses a coceira, as lesões na pele diminuíram ou desapareceram. O tratamento usado foi desenvolvido na Espanha e é específico contra a espécie mais comum de ácaro doméstico, o Dermatophagoides pteronyssinus.
“Até mesmo crianças pequenas conseguiram usar bem o tratamento, que pode ser aplicado em casa. O clima do Brasil é perfeito para os ácaros e a alergia é muito frequente. Propomos uma mudança no tratamento que pode ajudar muita gente”, destaca a cientista.
Pesquisa com brasileiros
Uma pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha revela que na percepção de 47% da população, essa enfermidade é causada por maus hábitos de higiene; 46% acreditam, erroneamente, que o paciente não poderia ter contato com crianças; e 36% entendem que pessoas com manifestações visíveis não deveriam sair de casa, ir à escola ou ao trabalho. No entendimento de 33%, elas não poderiam até mesmo usar o transporte público.
Embora 59% dos brasileiros tenham apresentado pelo menos um dos sintomas, segundo a pesquisa, o diagnóstico de dermatite atópica foi de apenas 1%. Outros 2% foram diagnosticados como alergia.
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