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Neto aproveita a quarentena para alfabetizar a avó

Professor de Língua Portuguesa aproveita o tempo livre para ensinar o básico em Goiânia.

Por: Adriano Dias
17/05/2020 – 19h02
Dona Alcina aproveita a oportunidade para estudar diariamente
Dona Alcina aproveita a oportunidade para estudar diariamente

 

O isolamento social adotado em diversos pontos do Brasil apresentou para aqueles que estão em casa, diversas atividades para preencher o espaço ocupado pela ociosidade momentânea. Em algumas ocasiões, a quarentena vem se mostrando essencial para recuperar o tempo perdido quando se trata dos estudos. É o exemplo do professor de língua portuguesa Ricardo Pereira, de 31 anos. Com mais tempo em casa, ele aproveitou o tempo livre para alfabetizar e realizar o sonho da avó dele, de 85 anos.

Dona Alcina Bispo alimentava com frequência a expectativa de aprender a ler e a escrever. Porém, a distância entre os dois era um empecilho – ela tinha residência em Tocantins, enquanto o neto trabalhava no estado de Goiás.  Porém, a mudança de Dona Alcina para a capital Goiânia para tratamentos médicos foi fundamental para dar vida a esse sonho da vovó do Ricardo.

As aulas foram iniciadas neste mês de maio, quando o professor viu a avó ociosa dentro de casa. Em pouco mais de uma semana, Dona Alcina já reconhecia facilmente as vogais e conseguia fazer as associações das letras. A iniciativa de alfabetizar foi tomada por Ricardo, que avaliou o desempenho de sua nova aluna.

“Ela teve dificuldade nos primeiros dias, mas tem se saído muito bem”, classificou o professor para o portal G1.

Assim como muitas pessoas pelo Brasil, Dona Alcina encarou diversos obstáculos até chegar a formação inicial nos estudos. Ela ficou órfã aos 9 anos de idade e se casou bem cedo, aos 15. Desde nova, dedicou-se a cuidar da família, o que a distanciou das chances de aprender a estudar naquela época.

“Eu tenho muita vontade de fazer meu nome, mas nunca tive a oportunidade. Cada tempo é tempo. Estou viva, e Deus vai me ajudar e vai dar tudo certo”, disse.

Tempos depois, Dona Alcina aproveita a oportunidade para estudar diariamente, mesmo após o período das aulas. Ainda para o portal G1, o professor classificou esta atitude de alfabetizar a avó como uma forma de agradecer por tudo que ela fez por ele ao longo da vida.

 

Cenário Preocupante no Brasil

Infelizmente, Dona Alcina não estava sozinha nessa cruel estatística. Um relatório elaborado pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua mostra que mais da metade dos brasileiros de 25 anos ou mais não concluiu a educação básica. Segundo esta mesma pesquisa, o ciclo básico de aprendizagem termina quando o estudante se forma no ensino médio.

A pesquisa aponta que 52,6% dos brasileiros nesta faixa etária não concluíram o mínimo de estudo esperado. Os números apontam ainda que 33,1% não terminaram nem o ensino fundamental. Outros 6,9% não têm instrução alguma; 8,1% têm o fundamental completo e 4,5% têm o ensino médio incompleto. Na outra ponta, a da escolaridade completa, só 16,5% da população acima de 25 anos concluiu o ensino superior.

Os números ainda estão muito abaixo do patamar ideal, mas não custa nada torcer para que mais Donas Alcinas possam vencer a batalha para concluir os estudos.

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