Medicamento brasileiro devolve movimento a pessoas com lesão na medula
Por: Álefe Panaro
15/10/2025 – 15h00

A ciência brasileira pode estar diante de um marco na medicina regenerativa. Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em parceria com o laboratório Cristália, desenvolveram a polilaminina, um medicamento experimental derivado da placenta humana que tem apresentado resultados animadores na recuperação de movimentos em pacientes com lesões na medula espinhal.
A descoberta na placenta
A polilaminina é obtida a partir de uma molécula chamada laminina, presente na placenta, órgão essencial para o desenvolvimento da vida. Estudada há mais de 25 anos pela professora Tatiana Coelho de Sampaio, do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ, a substância se mostrou capaz de proteger e regenerar neurônios, favorecendo a recuperação de funções motoras perdidas.
Microscópica e de estrutura tridimensional semelhante a uma teia, a laminina participa de processos básicos de sobrevivência celular e migração de neurônios. Seu potencial de estimular novas células e conter danos chamou a atenção da comunidade científica.
Como funciona o medicamento
O protocolo é simples, mas precisa ser rápido. A aplicação é feita diretamente na medula espinhal, em doses muito pequenas, preferencialmente até seis dias após o trauma. O objetivo é restabelecer a comunicação entre o cérebro e o corpo, interrompida em casos de paraplegia ou tetraplegia causados por acidentes, quedas ou ferimentos.
Em estudos já realizados, a substância demonstrou melhores resultados quando aplicada nas primeiras 24 horas após o acidente, mas também trouxe benefícios em situações mais antigas.
Resultados que surpreendem
Desde 2018, a polilaminina vem sendo testada em um grupo restrito de pacientes. Entre eles está o analista Bruno Drummond, que aos 23 anos sofreu um acidente de trânsito e perdeu totalmente os movimentos dos braços e pernas. Após a aplicação, a primeira melhora foi discreta: conseguiu mexer o dedão do pé. Com o tempo e a fisioterapia, Drummond voltou a caminhar normalmente e recuperou boa parte da força nos braços.
No total, cerca de dez pacientes já apresentaram recuperação parcial ou significativa dos movimentos após o uso do medicamento. Em cinco deles, foi registrada a saída do nível A, considerado o mais grave, sem movimento ou sensibilidade para o nível C, com retorno de força e mobilidade.
Próximos passos da pesquisa
Os pesquisadores reforçam que os resultados ainda são preliminares e precisam passar pela validação científica oficial. O laboratório Cristália aguarda a autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para iniciar a fase 1 dos estudos clínicos, que contará com a parceria do Hospital das Clínicas da USP e da AACD no processo de reabilitação.
Segundo Rogério Almeida, vice-presidente de Pesquisa e Desenvolvimento do Cristália, o objetivo é oferecer uma alternativa viável e mais acessível do que tratamentos com células-tronco, que ainda apresentam imprevisibilidade nos efeitos após a aplicação.
Esperança renovada
Embora ainda esteja em fase experimental, a polilaminina já representa uma nova esperança para pessoas que enfrentam as limitações impostas por lesões medulares. Se aprovada pelas autoridades regulatórias, poderá abrir caminho para uma alternativa inovadora no tratamento de paraplegia e tetraplegia no Brasil e no mundo.
> Voltar








