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Físico brasileiro recebe o ‘Nobel da Espiritualidade’

Cientista é o primeiro da América do Sul a receber o Templeton

Ciência e espiritualidade andam juntas em pesquisa de Marcelo Gleiser
Marcelo Gleiser, físico brasileiro, recebeu prêmio por unir ciência e espiritualidade. | Foto meramente ilustrativa

 

Você é o tipo de pessoa que acha que ciência não combina com espiritualidade? Nós vamos te mostrar que elas combinam sim! O físico brasileiro Marcelo Gleiser recebeu nesta quarta-feira (29) o prêmio Templeton, considerado uma espécie de “Nobel da Espiritualidade”, como definiu o próprio vencedor na ocasião do anúncio do prêmio, em março.

A honraria já foi concedida a Madre Teresa de Calcutá (em 1973) e Dalai Lama (em 2012). A cerimônia de entrega do prêmio — no valor de 1,1 milhão de libras esterlinas (cerca de R$ 5,5 milhões) — ocorreu em Nova York, no museu Metropolitan. O carioca Gleiser, de 60 anos, recebeu o Templeton como um reconhecimento por seus 35 anos de trabalho como físico e cosmólogo.

Mas por que um prêmio considerado o “Nobel da Espiritualidade”, que já foi dado a tantos líderes religiosos, foi concedido a um físico? O prêmio tem esse apelido porque, segundo a fundação, “homenageia uma pessoa que fez uma contribuição excepcional para afirmar a dimensão espiritual da vida, seja por insights, descoberta ou trabalhos práticos”.

Nesta categoria, já foram premiados desde cientistas como Francisco J. Ayala, professor de ciência biológicas da Universidade da Califórnia reconhecido por suas pesquisas na área de genética evolucionista, até o pesquisador Michael Bourdeax, que estudou a destruição da religião nos países da ex-União das Repúblicas Socialistas Soviéticas que compunham a Cortina de Ferro.

Para Heather Templeton Dill, presidente da fundação, o que se destaca nas ações de Gleiser é a sensação de surpresa diante de cada possível descoberta.

“O trabalho do professor Gleiser exibe uma inegável alegria pela exploração. Ele mantém a mesma sensação de maravilhamento contemplativo que experimentou pela primeira vez quando criança na praia de Copacabana, contemplando o horizonte ou o céu noturno estrelado, curioso sobre o que está além”, comenta Templeton Dill.

Gleiser considera que reflexões espirituais são pontos cruciais para uma investigação completa do mundo. Para ele, o caminho para a compreensão e a exploração científica não é apenas sobre a parte material, mas também é uma parte espiritual do mundo.

“Minha missão é trazer de volta para a ciência, e para as pessoas interessadas na ciência, esse apego ao misterioso, para fazer as pessoas entenderem que a ciência é apenas mais uma maneira de nos envolvermos com o mistério de quem somos”, comenta o físico.

A pedido do OGLOBO, o cientista brasileiro respondeu algumas perguntas sobre espiritualidade e ciência.

Qual é a importância da ciência e da espiritualidade nos dias de hoje?

“Diria que ambas são essenciais. A ciência, obviamente, determina em grande parte a vida que temos hoje, dos celulares e tecnologias digitais às práticas de extração mineral às curas medicinais. A religião, em países como o Brasil, sempre teve um papel social muito importante; as pessoas se identificam com uma religião e encontram sua comunidade e um senso de dignidade nela. O diálogo entre as duas é, portanto, essencial, dado que ambas são aspectos complementares dos questionamentos que temos como humanos.”

Como fazer ciência e espiritualidade caminharem juntos?

“Eu vejo a ciência como um portal para questionamentos existenciais muito mais antigos do que a própria ciência: de onde viemos, por que estamos aqui e para onde vamos, enquanto espécie e enquanto indivíduos em busca de uma vida com propósito. A ciência moderna abrange, em parte, essas questões. Quando entendemos que somos criaturas raras num planeta ainda mais raro, entendemos que temos um imperativo moral de proteger a vida e o planeta em que vivemos com tudo o que temos. Não existe outra alternativa!”

Precisa ser espiritualizado para estudar espiritualidade?

“Para estudar espiritualidade não; para ser uma pessoa aberta a uma visão espiritual do mundo, sim. Isso significa uma compreensão visceral de que somos parte de algo muito maior do que nós, de uma história cósmica muito mais antiga do que a nossa espécie, que somos como o universo pensa sobre si mesmo. Uma visão espiritualizada da realidade significa uma abertura que vai além do racional para o mundo e nossa existência.”

Redação por Lohrrany Alvim

31/05/2019 – 16h25

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