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Brasil inaugura primeira escola de fotografia para deficientes visuais

Por: Henrique Cesar
02/09/2022 – 12h25

No dia 25 de agosto de 2022, no Instituto Luiz Braille do Espírito Santo, em Vitória (ES) foi inaugurado o primeiro curso de fotografia para deficientes visuais do Brasil. Pioneiro na área, o curso oferece oito módulos de ensino a serem praticados em oito meses com aulas feitas por uma equipe com quatro fotógrafos às quintas e sextas. A turma inicial é formada por 12 estudantes de canto e teatro do projeto Cena Diversa, do Coletivo Companhia Poéticas da Cena Contemporânea, que trabalha com cinema, vídeo, teatro e a fotografia. O projeto foi idealizado por Rejane Arruda, presidente da Associação Sociedade Cultura e Arte (SOCA Brasil) e diretora do Coletivo e da Escola de Fotógrafos Cegos (EFC). “O nosso objetivo é a transmissão do olhar e da poética de uma fotografia contemporânea para eles. A gente aposta nessa transmissão de uma poética visual para essas pessoas que nunca enxergaram imagens”, declarou Rejane. 

Ao fim do curso, a curadora Bárbara Bragato selecionará 32 fotografias de toda a produção feita durante o curso para estampar estruturas cúbicas que serão expostas no Parque do Moscoso, em Vitória. “A ideia é formar 12 fotógrafos cegos. E que eles percebam o que opera uma poética da imagem, por meio da escrita fotográfica, e os próprios dispositivos para que, ao fim do curso, tenham autonomia. Aos poucos, vão percebendo que cada um pode ter um estilo, como autor de uma obra. A meta é a imagem como obra. Não uma fotografia instrumental, mas fotografia arte. A gente aposta que eles são bons contribuintes, bons artistas, exatamente por não enxergarem. Essa é a hipótese do projeto. Porque não enxergam, eles fotografam melhor do que a gente. Eles têm uma imprevisibilidade no olhar. Isso gera bons produtos, boas estéticas”, evidenciou Rejane, presidente da SOCA Brasil, Associação que trabalha com inclusão desde 2019. 

João Maia, maior nome da fotografia feita por pessoas com deficiências visuais no Brasil e fotógrafo oficial dos Jogos Paralímpicos por duas vezes, considerou o projeto completamente válido.  O fotógrafo ainda realizará um bate-papo com os alunos, que ainda será agendado. “Porque o conhecimento tem que ser compartilhado. Se você tiver uma metodologia que agregue conhecimento, é muito importante para as pessoas com deficiência”, declarou Maia, ainda apoiando os alunos caso houvesse um interesse maior e uma busca por um curso técnico, bacharelado ou pós-graduação, pois segundo ele, não existem barreiras quanto ao incentivo, “barreiras eu encontro todo dia no meu caminho, mas se eu for me preocupar com essa barreira, não vou crescer profissionalmente. Hoje, não paro de estudar porque o conhecimento é que vai me diferenciar de qualquer outra pessoa, com ou sem deficiência”. 

João enxerga cores apenas com o olho esquerdo, alcançando somente 15 centímetros à sua frente, quando ele fotografa em ambientes que não conhece, como foi o caso da Paralimpíada de 2020 no Japão, leva um guia que o ajuda a situar onde as coisas estão. Ao falar sobre o curso, ele reiterou que a fotografia deve ser democratizada e para ele, cabe ao professor quebrar os paradigmas e se adaptar às necessidades de qualquer aluno com deficiência visual. “São sempre válidas as ações que trazem conhecimento para pessoas com deficiência”, ele completa. 

Referências bibliográficas: 

CARVALHO, Monique. Brasil ganha primeira escola para fotógrafos cegos (ES). Disponível em: https://www.sonoticiaboa.com.br/2022/08/29/brasil-primeira-escola-fotografos-cegos. Acesso em: 02 de setembro de 2022. 

GANDRA, Alana. Escola pioneira no Espírito Santo vai formar 12 fotógrafos cegos. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2022-08/escola-pioneira-no-espirito-santo-vai-formar-12-fotografos-cegos. Acesso em: 02 de setembro de 2022. 

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