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A instituição espírita no terceiro milênio – Gerson Simões Monteiro

As Instituições Espíritas precisam renovar-se e adaptar-se a nova realidade vivida pelo homem no século XXI. Devido a tal necessidade urgente, apresento aos leitores, para a reflexão de cada um, o trabalho de minha autoria originalmente divulgado no 2º Congresso Espírita Mundial, realizado na cidade de Lisboa, em Portugal, de 1º a 05 de outubro de 1998:

“Analisando a velocidade com que se propagam as idéias espíritas, fruto da satisfação que elas proporcionam, Allan Kardec, no item V da Conclusão de O Livro dos Espíritos, admitiu três períodos para o desenvolvimento dessas idéias, a saber:

o da curiosidade provocada pelos fenômenos;
o do raciocínio e da filosofia; e
o da aplicação e das conseqüências.

Conforme suas observações, o primeiro já havia passado, e o segundo, começado. O terceiro seguiria inevitavelmente, e é notório que há muito o estamos vivenciando.

O período da aplicação e das conseqüências a que se refere o Codificador é a etapa em que o Espiritismo ajuda a Humanidade a entrar na nova fase do progresso moral, sua conseqüência inevitável. Esta é a missão do Espiritismo.

A Doutrina Espírita, como fator incrementador do progresso moral da coletividade humana, por intermédio do progresso individual, tem na Instituição Espírita o meio principal para atingir esse objetivo.

Espaço de Convivência

Nessa condição, podemos situar a Instituição Espírita como espaço de convivência, de estudo, de oficina e de reflexão. Nele, a criatura humana pode apreender os postulados da Doutrina Espírita, dentre eles os seus princípios fundamentais, que segundo Allan Kardec, no capítulo 18 (Sinais dos Tempos), de A Gênese, “toda a gente pode aceitar e aceitará: Deus, a alma, o futuro, o progresso individual indefinido, a perpetuidade das relações entre os seres” (1) e vivenciar o Espiritismo nas suas diversas atividades (de estudo, orientação, assistência social).

O Verdadeiro Espírita

Dessa forma, a Instituição Espírita prepara o homem em todas as suas faixas de idade, para atender o preceito exposto por Allan Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo: “Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más” (2).

Este homem transformado atuará na sociedade, portanto, como agente de mudança, concorrendo para resolver a questão social, que, para o Codificador, “está no melhoramento moral dos indivíduos e das massas” (3).

A Doutrina Espírita, conceituando o homem como Espírito encarnado para progredir tanto no aspecto intelectual quanto no moral, leva-nos a concluir que, na trajetória existencial do berço ao túmulo, ele é um ser vivenciando circunstâncias, as quais resultam em necessidades.

Necessidades do Homem

É claro que a Instituição Espírita deve atender às necessidades do homem, mas para um melhor entendimento desse posicionamento, vamos nos valer de Abraham Maslow, conceituado psicólogo humanista, que em seu livro Motivação e Personalidade, formulou a conhecida hierarquia das necessidades humanas, dividindo-as em primárias e secundárias.

No entanto, cabe a pergunta-reflexão: a quais necessidades deve a Instituição Espírita atender? Às primárias (base da pirâmide) ou às secundárias (topo da pirâmide)? A resposta, ao nosso ver, seria atender às necessidades secundárias, que, segundo Maslow, produzem no homem resultados subjetivos mais desejáveis, ou seja, felicidade mais intensa, serenidade e riqueza de vida interior.

O foco no Centro Espírita

Isso nos leva à convicção de que o foco da Instituição Espírita deve ser o ensino fundamental da Doutrina Espírita, conforme afirma Allan Kardec, no item IV da Conclusão de O Livro dos Espíritos:

“O homem quer ser feliz e é natural esse desejo. Ora, buscando progredir, o que ele procura é aumentar a soma da sua felicidade, sem o que o progresso careceria de objeto. Em que consistiria para ele o progresso, se lhe não devesse melhorar a posição?

Quando, porém, conseguir a soma de gozos que o progresso intelectual lhe pode proporcionar, verificará que não está completa a sua felicidade. Reconhecerá ser esta impossível, sem a segurança nas relações sociais, segurança que somente no progresso moral lhe será dado achar. Logo, pela força mesma das coisas, ele próprio dirigirá o progresso para essa senda e o Espiritismo lhe oferecerá a mais poderosa alavanca para alcançar tal objetivo” (4).

Escola da Alma

A respeito do tema, vale a pena citar ainda o enfoque do trabalho Centro Espírita – Unidade Fundamental do Movimento Espírita, publicado no REFORMADOR em março de 1993 (p. 81, subitem 1.2.2) com base no documento Orientação ao Centro Espírita, do Conselho Federativo Nacional da FEB:

“Na sua função de escola da alma, o Centro Espírita tem responsabilidade na educação integral do homem, como Espírito imortal, e não como ser meramente existencial. Para tanto, deve promover, com vistas ao aprimoramento íntimo de seus freqüentadores, o estudo metódico e sistemático e a explanação da Doutrina Espírita no seu tríplice aspecto – científico, filosófico e religioso – consubstanciada na Codificação Kardequiana e no Evangelho” (5).

Considerando, porém, as más condições sócio-econômicas de expressivos contingentes de seres humanos, a Instituição Espírita não pode desprezar as necessidades primárias. Isto porque, conforme Maslow expressa de maneira adequada e simples, “quando as necessidades primárias são atendidas, isto é, as fisiológicas, as de segurança, as sociais e as de estima, necessidades mais elevadas como auto-estima e auto-realização surgem em seu lugar” (6).

Eis por que a Instituição Espírita não deve se descuidar do atendimento aos que a procuram em busca de orientação e socorro para os seus problemas materiais, morais e espirituais, valendo-se dos instrumentos ao seu alcance e alicerçada na máxima “Fora da Caridade não há Salvação” (7).

Unificação

Ainda nesta oportunidade, destacamos trecho do citado trabalho Centro Espírita – Unidade Fundamental do Movimento Espírita, apresentado originalmente pela Federação Espírita Brasileira em 1972, no Congresso Mundial de Espiritismo realizado em Madrid, na Espanha, sobre as atividades de unificação e o Centro Espírita, com vistas à auto-sustentação do Movimento Espírita:

“O Centro Espírita é a unidade fundamental do Movimento Espírita. Como tal, não é lícito ficar fechado em si mesmo, mas ao contrário, irradiar para fora do seu ambiente e ligar-se às outras instituições congêneres de sua comunidade. É o que Kardec recomenda, a propósito da multiplicação dos pequenos grupos, os quais, ‘correspondendo-se entre si, visitando-se, permutando observações, podem, desde já, formar o núcleo da grande família espírita, que um dia consorciará todas as opiniões e os homens por um único sentimento: o da fraternidade, trazendo o cunho da caridade cristã” (8).

Conclusão

Concluindo, afirmamos que os objetivos maiores da Instituição Espírita no Terceiro Milênio são o da educação e reeducação do homem, e o de divulgar o Espiritismo por todos os meios idôneos disponíveis e ao seu alcance, no sentido de alavancar o progresso moral do homem, de tal forma que possa ele acompanhar o progresso da Terra nessa Era, em que será elevada da categoria de planeta de expiações e provas à categoria de mundo Regenerado.”

Referências Bibliográficas

1. KARDEC, Allan. A Gênese: os milagres e as predições segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro da 5. edição francesa. Cap. XVIII, item 17. 38. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1999. 423 p.

2. KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro da 3. edição francesa revista, corrigida e modificada pelo autor em 1866. Cap. XVII, item 4. 116. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1999, 435 p.

3. KARDEC, Allan. Obras Póstumas. Tradução de Guillon Ribeiro da 1. edição francesa. Credo Espírita – Preâmbulo. 28. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1998, 390 p.

4. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos: princípios da Doutrina Espírita. Tradução de Guillon Ribeiro. Conclusão, item 4. 80. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1998, 494 p.

5. FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA – Conselho Federativo Nacional. Orientação ao Centro Espírita. 3.ed. Rio de Janeiro: FEB, 1988. 67 p.

6. MASLOW, Abraham. Motivação e Personalidade.

7. KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro da 3. edição francesa revista, corrigida e modificada pelo autor em 1866. Cap. XV. 116. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1999, 435 p.

8. KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns: ou, Guia dos Médiuns e dos evocadores. Tradução de Guillon Ribeiro da 49. edição francesa. Cap. XXIX, item 334. 66. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2000, 488 p.

Gerson Simões Monteiro

Vice-Presidente da FUNTARSO

 

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