Empatia é essencial no tratamento, afirma oncologista especialista em cuidados paliativos
Por: Álefe Panaro
27/11/2024 – 11h55
A oncologista e especialista em cuidados paliativos Ana Coradazzi defende a empatia como uma ferramenta terapêutica essencial no tratamento de pacientes. Ela é uma das principais defensoras do conceito de “Slow Medicine”, que prioriza uma abordagem mais humanizada e atenta às necessidades do paciente.
Com mais de 25 anos de experiência na área da saúde, Coradazzi destaca que o verdadeiro cuidado vai além das prescrições médicas: está no olhar atento para a dor e as necessidades do outro. Para ela, embora os tratamentos sejam cruciais, sozinhos não são suficientes para a recuperação.
“A empatia nos poupa tempo, melhora o diagnóstico, reduz a necessidade de exames desnecessários e aumenta a adesão dos pacientes aos tratamentos. Isso resulta em menos falhas terapêuticas e complicações. A empatia não é um luxo, mas uma parte fundamental do cuidado”, afirma em entrevista à Veja.
Empatia no tratamento
Ana Coradazzi formou-se pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP) e hoje lidera a equipe de oncologia clínica na Faculdade de Medicina. Durante a graduação, ela viveu uma experiência marcante: na sua primeira anamnese, atendeu um paciente com dificuldade para engolir e perda de peso. Inquieta para descobrir o diagnóstico, ela conversou com seu professor, que revelou: câncer. Anos depois, já especializada em oncologia, Ana se dedicou a adotar uma abordagem mais humanizada no atendimento, colocando a empatia no centro do cuidado com seus pacientes.
Cuidados com o paciente
Para Ana Coradazzi, a empatia vai além de ser vista como um luxo; ela é essencial desde o primeiro momento de contato com o paciente. Ao oferecer uma atenção genuína, é possível identificar o cuidado mais adequado e de melhor qualidade para cada caso.
“Adotar um olhar empático é uma estratégia fundamental, pois nos torna mais aptos a perceber as necessidades reais do paciente e a oferecer soluções que atendam a essas necessidades com precisão”, explica.
Novas tecnologias
Ao ser questionada sobre o impacto das novas tecnologias na medicina, como a IA, Ana é clara: “Nenhuma tecnologia é boa ou ruim por si só”. Para ela, a tecnologia deve aprimorar os aspectos técnicos, permitindo que os profissionais se concentrem no cuidado humanizado, o que resulta em um atendimento mais completo e eficaz.
Inclusão na formação
Para Ana Coradazzi, é urgente repensar o ensino médico no Brasil. Ela acredita que, nas faculdades, a empatia e o acolhimento têm sido negligenciados.
“Os médicos aprendem a tratar doenças, mas não sabem lidar com pessoas doentes. Isso é preocupante. A relação entre médico e paciente pode ser terapêutica em vários aspectos, desde o entendimento do caso até o alívio do sofrimento, beneficiando também o profissional, que encontra mais significado em sua prática”, observa.
Por isso, Ana defende a inclusão das humanidades médicas nos currículos de graduação e pós-graduação, visando resgatar a empatia como um pilar essencial da medicina.
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