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Tratamento promissor contra câncer é investigado em estudo brasileiro

Por: Álefe Panaro
03/07/2024 – 10h55

Pesquisa inovadora transforma células tumorais em saudáveis. (Foto Reprodução: : Getty Images)

 

Uma combinação inovadora de duas drogas conseguiu suprimir tumores de maneira não convencional. Em vez de inibir a divisão celular, como fazem os medicamentos tradicionais, a estratégia superativa a sinalização das células tumorais até que fiquem estressadas. Uma segunda droga, então, ataca especificamente essas células estressadas. Esta abordagem será testada em pacientes com tumores intestinais nos Países Baixos ainda este ano.

Publicado na revista Câncer Discovery, o estudo tem autoria principal do brasileiro Matheus Henrique Dias, atualmente pós-doutorando sênior no Instituto do Câncer dos Países Baixos (NKI).

A ideia começou a ser desenvolvida durante o pós-doutorado do pesquisador no Instituto Butantan, com um estágio na Universidade de Liverpool, no Reino Unido. O projeto foi conduzido no âmbito do Centro de Toxinas, Resposta-Imune e Sinalização Celular (CeTICs), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) apoiado pela FAPESP.

“Descobrimos naquela ocasião que o chamado fator de crescimento de fibroblastos 2 [FGF2], um gene que deveria estimular a proliferação das células, fazia o contrário quando as células eram tumorais: inibia a multiplicação. Era uma observação curiosa, porque era o oposto do que deveria acontecer”, esclarece Dias à Agência FAPESP.

Naquele momento, um estudo sobre o papel do FGF2 foi publicado na revista Molecular Oncology. No estudo atual, os pesquisadores demonstram que a redução da proliferação das células cancerígenas não ocorre devido à inibição direta por uma droga, como nos tratamentos quimioterápicos tradicionais. Em vez disso, uma das drogas desta estratégia superativa a sinalização das células tumorais, fazendo com que elas fiquem estressadas e, assim, mais suscetíveis a outras drogas específicas para células em estado de estresse.

“É como se quiséssemos parar um carro em alta velocidade, mas, em vez de tentar freá-lo, acelerássemos ainda mais até que o motor ficasse superaquecido. E, quando o motor estivesse muito quente, desativaríamos o sistema de resfriamento”, demonstra Henrique Dias.

 

Duplo Ataque

Um dos coautores do estudo, Marcelo Santos da Silva, professor do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (IQ-USP) e apoiado pela FAPESP, estava realizando seu pós-doutorado no Instituto Butantan ao mesmo tempo que Dias. Ele desenvolveu um ensaio para quantificar o estresse das células tumorais.

“Quando superativadas, as células tumorais replicam o DNA ainda mais rápido do que o normal. Como não estão preparadas para lidar com essa velocidade de replicação, acabam gerando danos no DNA, o chamado estresse replicativo”, relata Marcelo.

Marcelo Santos da Silva em seu laboratório no IQ-USP. (Foto Reprodução: acervo pessoal)

 

Ao perceber que a superativação do FGF2 inibia a proliferação celular devido ao estresse, Dias buscou uma molécula para induzir esse efeito. A LB-100, em testes clínicos para tumores de pulmão, mostrou-se promissora. Para atacar as células estressadas pela LB-100, os pesquisadores usaram inibidores da proteína WEE1, que corrige danos no DNA dos tumores. Sem WEE1, as células entram em divisão celular antes de concluir a replicação do DNA, resultando em morte celular.

“O mais interessante é que, para sobreviverem a essa abordagem, as células cancerígenas desativam as vias oncogênicas, passando a se comportar como células saudáveis”, explica Dias.

Os pesquisadores testaram o tratamento em tumores colorretais humanos implantados em camundongos, onde duas drogas foram usadas para inibir o crescimento dos tumores no intestino dos animais. O sucesso nos modelos de câncer colorretal levou os pesquisadores a testar a combinação em adenocarcinoma de pâncreas e colangiocarcinoma, tipos raros e agressivos de câncer com poucas opções de tratamento, obtendo resultados promissores também nessas linhagens.

“Esse é um campo de estudos em crescimento, com grandes empresas investindo em ativadores de sinalização e outras pequenas sendo criadas para desenvolver esse tipo de droga. Nos próximos anos, algumas devem estar no mercado entre as opções de tratamento oncológico, esperamos que uma seja a nossa”, diz com Dias com certo otimismo.

Na USP, Silva planeja utilizar o mesmo princípio do potencial tratamento contra o câncer para combater parasitas causadores de doenças negligenciadas. Protozoários responsáveis pela doença de Chagas e leishmaniose compartilham um comportamento semelhante ao das células cancerígenas, replicando-se rapidamente dentro das células hospedeiras.

O artigo Paradoxical Activation of Oncogenic Signaling as a Cancer Treatment Strategy pode ser acessado gratuitamente aqui.

 

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