Brasileiras desenvolvem sorvete que alivia sintomas em pacientes sob quimioterapia
Redação por Lohrrany Alvim
08/01/2019 – 16h50
Pacientes que passam por quimioterapia têm dificuldades para se alimentar devido aos efeitos colaterais do tratamento. Entre as sequelas estão náuseas, vômitos, feridas na boca, aftas, mucosite (lesões na mucosa) e a sensação de boca seca. Mas agora, eles contam com um alimento que, além de aliviar esses problemas, funciona como suplemento, atendendo suas necessidades nutricionais. Trata-se de um sorvete especial, desenvolvido por uma equipe de nutricionistas da Universidade Federal de Santa Catarina (USFC).
O produto é resultado do Trabalho de Conclusão de Residência (TCR) no Hospital Universitário da UFSC, da nutricionista Paloma Mannes, especialista em Saúde com Ênfase em Alta Complexidade.
“Eu e minha preceptora, Akemi Arenas Kami, e minha orientadora, Francilene Gracieli Kunradi Vieira, pensamos em algo que fosse aplicável no dia a dia dos pacientes, viável do ponto de vista econômico e prático para o hospital, além de amenizar os sintomas mais decorrentes do tratamento quimioterápico”, conta.
Elas realizaram uma pesquisa bibliográfica e detectaram que um alimento gelado atenderia todos esses requisitos. A princípio, a equipe pensou em fazer geladinhos caseiros, mas uma empresa fabricante de sorvetes de Florianópolis se interessou pelo trabalho e resolveu produzí-lo, o que continua fazendo até hoje.
“O principal objetivo da criação desse produto é proporcionar aos pacientes o consumo de um alimento saboroso e nutritivo, que contemple não apenas a questão nutricional, pois ele tem alta densidade energética e é fonte de fibras e de proteínas, mas que também seja saboroso – considerando que durante o tratamento o paladar encontra-se alterado e são inúmeras as queixas de falta de apetite -, que contribua com a redução dos efeitos colaterais da quimioterapia e proporcione um tratamento mais humanizado”, explica Paloma.
O sorvete é feito com ingredientes diferentes dos convencionais. O produto desenvolvido pelas pesquisadoras contém açúcar orgânico, a polidextrose, que é uma fibra solúvel, a proteína isolada de soro de leite, mais conhecido como whey protein e o azeite de oliva sem sabor.
De acordo com Francilene Gracieli Kunradi Vieira, essa composição resultou em um produto altamente calórico como os sorvetes tradicionais, mas sendo também fonte de proteína de alto valor biológico e fibra, com baixo teor de gordura total, sem gordura trans, glúten ou lactose.
“Os sabores – morango, chocolate e limão – foram escolhidos por serem os mais tradicionalmente comercializados e aceitos pela população em geral”, diz Francilene. O sorvete foi criado em 2017. O tempo decorrido entre as discussões sobre o desenvolvimento do produto e as análises de aceitação sensorial foi de um ano.
“Após determinarmos os ingredientes e suas quantidades, fizemos a análise sensorial dele com dois grupos de provadores”, conta a pesquisadora. “Um deles formado por 30 pacientes com câncer em quimioterapia, e o outro grupo composto por 108 consumidores saudáveis.”
Cada provador recebeu uma amostra dos três sorvetes e atribuiu uma nota aos produtos, a partir de uma escala sensorial que variava de 1 a 7 pontos, sendo que notas acima de 5 indicariam a aceitação. Para que fosse considerado aprovado por suas propriedades sensoriais e pudesse ser comercializado, era preciso que pelo menos 75% dos participantes dessem notas acima de 5 para cada uma das amostras.
De acordo com Francilene, os resultados da aceitação para os três sabores foram bem sucedidos, pois obteve-se uma média que variou de 77% a 98%.
“Esse resultado está possivelmente associado ao fato de que sorvete faz parte de um repertório alimentar reconhecido e apreciado pela população. Por isso, ele representa uma possibilidade terapêutica promissora, tanto na prevenção como na recuperação do estado nutricional de indivíduos doentes, e também para a população em geral que prefere uma versão saudável do produto.”
Aline Valmorbida, outra integrante da equipe, lembra mais um benefício do sorvete.
“Além de amenizar os efeitos colaterais da quimioterapia, também vale ressaltar a importância do produto para a humanização da assistência em âmbito hospitalar”, diz.
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