Por: Lohrrany Alvim
29/01/2022 – 09h55
É bem possível que você use a folha de louro para preparar o feijão, mas não deve conhecer todos os benefícios que essa planta traz. Talvez você até saiba que ela auxilia na digestão e é fonte de vitaminas e antioxidantes, com propriedades anti-inflamatórias e analgésicas. Mas quem poderia imaginar que a folha de louro teria poderes para agir contra a depressão e servir como antidepressivo?
A descoberta aconteceu durante estudos de cientistas brasileiros da Universidade Federal do Ceará (UFC), em parceria com as federais da Paraíba e do Piauí. Eles encontraram uma substância na folha de louro – também conhecido como “louro-rosa” – chamada riparina 3. Ela está presente na Aniba riparia (nome científico do louro), espécie de planta encontrada na Amazônia.
Análises
A primeira parte do estudo focou em modelos de comportamento usando animais. Nessa fase, camundongos são estimulados a adotar padrões de comportamento que simulem certas condições humanas. O grupo de cobaias recebeu a riparina via oral, diluída em água destilada, enquanto outro grupo recebeu apenas água destilada, servindo como controle. Ambos foram submetidos a situações de estresse, respondendo com comportamento semelhante à depressão.
Após uma série de testes e estímulos, o grupo que recebeu a riparina mostrou-se muito mais resistente à depressão induzida por estresse do que o grupo controle.
Já a segunda parte da pesquisa envolveu testes neuroquímicos. Nesse tipo de estudo, foram analisadas áreas como hipocampo e córtex pré-frontal do animal, além do nível de substâncias associadas ao comportamento depressivo. Em todos os testes realizados pela equipe, a riparina demonstrou excelentes resultados, gerando um efeito semelhante ao antidepressivo.
“A gente fechou um ciclo, investigando todas essas situações. Por isso a pergunta do título do artigo (“A riparina III é uma droga promissora no tratamento da depressão?”). Na realidade, a riparina respondeu a muitas hipóteses que estão relacionadas à depressão”, declara a Profª Cléa Florenço, coordenadora da pesquisa.
Primeiro passo
De acordo com a pesquisadora, a depressão é um grande desafio para a medicina. Por isso é tão importante buscar novos medicamentos.
“Ainda existe um percentual entre 30% e 40% de pacientes que não respondem bem aos antidepressivos que temos no mercado”, explica.
Apesar da descoberta, o caminho ainda é longo. Depois da pesquisa pré-clínica, é necessário analisar toxicidade, segurança e eficácia do medicamento. Em seguida, inicia-se uma série de testes clínicos (realizados em humanos), o que pode levar anos. Somente depois disso, um medicamento pode ter o uso autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
No caso da riparina, os pesquisadores do Laboratório de Neurofarmacologia já realizaram estudos e descartaram qualquer toxicidade.
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